
Nas salas de aula dos cursos de jornalismo, muito se fala em “objetividade jornalística”, em “imparcialidade”, em isenção da opinião do profissional na elaboração das notícias. Até admite-se que o jornalista, como ser humano, não pode privar-se da prerrogativa de subjetividade na absorção e exteriorização de suas impressões, mas o que pouco se discute é o motivo maior do caráter opinativo implícito nos textos noticiosos.
Nenhum jornalista pode ser totalmente neutro, pois por mais que tente sê-lo, está sempre atuando em um meio com opinião definida. O posicionamento político-ideológico dos veículos de comunicação, eufemisticamente chamado de linha editorial, advém de um desequilíbrio estrutural na relação dialética que fundamenta a profissão.
Em primeiro lugar, existe a dimensão social do jornalismo, chamada pelo professor Edson Spenthof (UFG), de “dimensão comunicativo-discursiva”. É inegável que em nossa sociedade a falta de informação, ou o excesso de informações equivocadas, provoca sérias distorções na compreensão que as pessoas têm do processo de organização política do Estado. Quando os indivíduos não compreendem a sociedade, é certo que atuarão nela de maneira equivocada. Sendo assim, a Comunicação Social, como instrumento informador, exerce um papel imprescindível para o bem-estar social.
Porém, há ainda, a dimensão comercial do jornalismo. Não há como propagar informações sem um meio próprio para tal fim. Surge então, a necessidade da criação dos jornais, revistas, emissoras de TV, de rádio e portais de internet. A existência destes veículos, na sociedade capitalista, depende da sua constituição como empresas. É impossível manter um meio de comunicação sem que haja investimento financeiro. Tanto é, que o professor Spenthof, batiza esta característica de “dimensão estratégico-instrumental” do jornalismo. A partir dessa perspectiva, a notícia torna-se uma mercadoria a ser vendida ao público.
Essa relação bidimensional, em teoria, não deve ser conflitante, pois a convivência entre elas pode, sem a menor dúvida, ser interdependente. Para que um jornal venda, é preciso passar informação de qualidade. Para que a informação seja útil à sociedade, é preciso ser vendida. Por um lado, seria valorizada a responsabilidade social do comunicador, por outro, as necessidades existenciais da profissão.
Porém, na prática, há um desequilíbrio brutal entre os dois lados da balança. É comum em nossa época, a supervalorização do caráter mercantil dos fatos em detrimento da ética profissional. As empresas de comunicação, com raríssimas exceções, se submetem à lógica do mercado, aos interesses dos patrocinadores e às opiniões dos empresários, com objetivo claro de obter o lucro. A própria escolha do que vem ou não a ser notícia, segue os ditames dos interesses do capital.
Diante de tal paradigma, brotam duas opções para o público. Exigir de forma fervorosa o equilíbrio dialético da mídia para que se aumente a proximidade com a objetividade jornalística; ou aceitar que todo jornal (impresso, televisivo, radiofônico ou on-line), por mais democrático que seja, representa uma posição ideológica, e, a partir dessa compreensão, buscar variadas fontes de informação com linhas editoriais diferentes. O mais aconselhável é ler, ouvir e assistir o máximo de notícias possível, e estudar muito para não ser enganado pelos mentirosos de plantão.