segunda-feira, 9 de março de 2009

O Jornalismo e a “lógica do capital"


Nas salas de aula dos cursos de jornalismo, muito se fala em “objetividade jornalística”, em “imparcialidade”, em isenção da opinião do profissional na elaboração das notícias. Até admite-se que o jornalista, como ser humano, não pode privar-se da prerrogativa de subjetividade na absorção e exteriorização de suas impressões, mas o que pouco se discute é o motivo maior do caráter opinativo implícito nos textos noticiosos.

Nenhum jornalista pode ser totalmente neutro, pois por mais que tente sê-lo, está sempre atuando em um meio com opinião definida. O posicionamento político-ideológico dos veículos de comunicação, eufemisticamente chamado de linha editorial, advém de um desequilíbrio estrutural na relação dialética que fundamenta a profissão.

Em primeiro lugar, existe a dimensão social do jornalismo, chamada pelo professor Edson Spenthof (UFG), de “dimensão comunicativo-discursiva”. É inegável que em nossa sociedade a falta de informação, ou o excesso de informações equivocadas, provoca sérias distorções na compreensão que as pessoas têm do processo de organização política do Estado. Quando os indivíduos não compreendem a sociedade, é certo que atuarão nela de maneira equivocada. Sendo assim, a Comunicação Social, como instrumento informador, exerce um papel imprescindível para o bem-estar social.

Porém, há ainda, a dimensão comercial do jornalismo. Não há como propagar informações sem um meio próprio para tal fim. Surge então, a necessidade da criação dos jornais, revistas, emissoras de TV, de rádio e portais de internet. A existência destes veículos, na sociedade capitalista, depende da sua constituição como empresas. É impossível manter um meio de comunicação sem que haja investimento financeiro. Tanto é, que o professor Spenthof, batiza esta característica de “dimensão estratégico-instrumental” do jornalismo. A partir dessa perspectiva, a notícia torna-se uma mercadoria a ser vendida ao público.

Essa relação bidimensional, em teoria, não deve ser conflitante, pois a convivência entre elas pode, sem a menor dúvida, ser interdependente. Para que um jornal venda, é preciso passar informação de qualidade. Para que a informação seja útil à sociedade, é preciso ser vendida. Por um lado, seria valorizada a responsabilidade social do comunicador, por outro, as necessidades existenciais da profissão.

Porém, na prática, há um desequilíbrio brutal entre os dois lados da balança. É comum em nossa época, a supervalorização do caráter mercantil dos fatos em detrimento da ética profissional. As empresas de comunicação, com raríssimas exceções, se submetem à lógica do mercado, aos interesses dos patrocinadores e às opiniões dos empresários, com objetivo claro de obter o lucro. A própria escolha do que vem ou não a ser notícia, segue os ditames dos interesses do capital.

Diante de tal paradigma, brotam duas opções para o público. Exigir de forma fervorosa o equilíbrio dialético da mídia para que se aumente a proximidade com a objetividade jornalística; ou aceitar que todo jornal (impresso, televisivo, radiofônico ou on-line), por mais democrático que seja, representa uma posição ideológica, e, a partir dessa compreensão, buscar variadas fontes de informação com linhas editoriais diferentes. O mais aconselhável é ler, ouvir e assistir o máximo de notícias possível, e estudar muito para não ser enganado pelos mentirosos de plantão.
[Artigo publicado no jornal Diário da Manha (http://www.dm.com.br/) do dia 08/03/2009]

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