quinta-feira, 22 de maio de 2008

Coluna Arte: Bertolt Brecht - O analfabeto político




“Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na poesia e no teatro. O teatro épico e didático caracteriza-se, em Brecht, pelo cunho narrativo e descritivo cujo tema é apresentar os acontecimentos sociais em seu processo dialético. Diverte e faz pensar. Não se limita a explicar o mundo, pois se dispõe a modificá-lo. É um teatro que atua, ao mesmo tempo, como ciência e como arte. A alienação do homem, para Brecht, não se manifesta como produto da intuição artística. Brecht ocupa-se dela de maneira consciente e proposital. Mas não basta compreendê-la e focalizá-la. O essencial não é a alienação em si, mas o esforço histórico para a desalienação do homem. O papel do autor dramático não se reduz a reproduzir, em sua obra, a sociedade de seu tempo. O principal objetivo, quer pelo conteúdo, quer pela forma, e exercer uma função transformadora, que atue revolucionariamente sobre o ambiente social.” (Edmundo Moniz)

Edmundo Moniz é historiador, poeta, teatrólogo e ensaísta; profundo estudioso da obra de Brecht.

O Analfabeto Político

“O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que
odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio das dos exploradores do povo.”

Bertold Brecht

Pequena análise

Brecht nasceu na Alemanha pré-nazista, antes mesmo da Primeira Guerra Mundial (1914-18), em 1898. Em 1917 iniciou o curso de medicina, e foi convocado pelo exército para trabalhar como enfermeiro em um hospital militar nos últimos anos da guerra. Ali se rebelou contra os padrões burgueses modificados pela situação instável do maior conflito armado da história da humanidade até então, e começou a escrever seus primeiros poemas.
Em 1918 o jovem Bertold escreveu sua primeira peça, “Baal”, um drama expressionista que reflete o estado de revolta do autor para com a sociedade da época. No fim dos anos 20, começou a estudar o marxismo. Deixou a Alemanha em 1933 devido à ascensão de Hitler. Voltou ao seu país em 1948, onde viveu até sua morte em 1956 na cidade de Berlin.
A rebeldia presente em sua obra é absolutamente justificável devido às condições sociais da Europa vivendo os horrores da guerra imperialista do início do século XX. Mas poemas como “O Analfabeto Político” ganham eco na história, vindo refletir o grande problema da cultura política do povo brasileiro do século XXI.
Como foi dito por Aristóteles, “O homem é um animal político”. Dependemos da política para viver. Precisamos confiar nela e lutar pra transformá-la em um instrumento social eficiente. A política é a única forma de realizarmos as transformações sociais necessárias em nosso momento histórico. Por isso, e por outros motivos, “o pior analfabeto é o analfabeto político”.

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